O quebrar das ondas musicalizava o ambiente. Aquela ressaca, habitual, puxava qualquer pensamento meu e o afogava. Ventava.
Simplesmente fitava aquele azul imenso; devem ser as lágrimas, lágrimas de Deus, que foram derramadas ao ver o filho na cruz; lágrimas salgadas, amarguradas.
O pôr-do-sol pintava o céu com rajados de laranja e vermelho; um casal de aves voava em direção ao infinito. Aquele horizonte, o indistinguível, mesclava a esperança do céu à melancolia do mar.
E, neste cenário, apenas um ser humano, criaturinha qualquer, sonhava. Queria sentir-se bem. Não era este o plano, afinal?
Com o vento nos cabelos, águas nas costas, brilho avermelhado no olhar. As lágrimas dele misturavam-se às divinas. Cantava.
"Quando olhávamos juntos,
Na mesma direção...
Ah, onde está você agora
Além de aqui, dentro de mim?"