E naquela sala em que eu estava, tomada por trevas absolutas, pois a chama da vela de meu castiçal era tênue e bruxuleante, andei dois passos, pisando em algo úmido, como uma poça, mas não tive capacidade de estudá-la a fundo. Outros dois passos dados, tropecei num corpo amorfo, derrubando meu candelabro acima disso. Domado por chamas cálidas, tomou formato de um corpo humano, tornou o ambiente tétrico, engendrou um odor deletério, fez-me vacilar. A refulgência desta fogueira iluminou parte da sala, de modo que pude memorizar vagos detalhes. Isto não durara sequer milésimos de segundo.
Ao ser retomada a escuridão, iniciou de súbito uma voz de léxico abtruso. Supus que me admoestava. Não obstante, tomado por pirronismo, apenas não dei atenção. Vacilante, fui imiscuído na sombra, absorto e abtruso. Que queria de mim? Não sei, mas dei continuação a esta aviltada aventura.
Bati a mão num interruptor contíguo ao postigo. Luzes piscaram, tênues, mas de nada adiantou. Atravessei a porta, deste lado, sim, havia iluminação digna. O ambiente, vetusto, dava-me calafrios fastios. Determinei minha desistência assim que examinasse um caixilho repleto de fealdade. Meus últimos atos foram tangê-lo e sentir meus joelhos vacilando.